Uma carta ao seu reflexo no espelho

16 de dez. de 2017
​(ou uma história de amor próprio e de ir contra os sensos estéticos impostos pela sociedade)


Que engraçado parar agora em frente ao espelho e me olhar — longe da correria dos dias, sem estar se arrumando para sair. Podendo me olhar assim, consigo perceber o quanto de conceitos estéticos coloquei em cima dos ombros, o quanto que me cobrei porque os outros me cobravam: ter um cabelo liso, uma pele boa, dentes brancos e retos, abdômen definido. Apesar de entrar na academia, colocar aparelho nos dentes, me alimentar melhor, percebi que nunca poderia chegar no auge estético imposto pelas pessoas (e por mim mesmo, indiretamente influenciado).

Hoje, na frente do espelho, percebo na quantidade de conceitos estéticos tentei me encaixar, no tanto de estilos e vestimentas — quando isso tudo, na verdade, que deveria se encaixar na minha pessoalidade, na minha essência. Essência essa que quase perdi indubitáveis vezes querendo agradar quem é próximo, ser o mais bonito. Querendo dar sentido ao pertencimento de alguma nova moda, fiz do meu lar apenas um lugar para estampar uma blusa de marca, esterótipos e agrado nos olhos de outros. Querendo seguir a padronização que é imposta, perdi muitas vezes a potência do meu corpo, travando nas diversas vezes que não me enquadrava em algo. E como machucou não pertencer a nada, não me padronizar em nada.

Não é de agora que percebi que algumas coisas não tem solução, meu cabelo nunca será liso o suficiente para fazer uma franja, meus dentes nunca serão brancos suficientes para cegar alguém, meu corpo nunca será perfeito porque também amo comer porcarias. E, risos, está tudo bem. Eu gosto da não simetria que meu nariz de coxinha da ao meu rosto, aceito que tenho uma barriguinha e não é algo que me incomoda, gosto de ter olhos pretos e fazer as sobrancelhas porque elas crescem rápido demais.

Então tem sido assim, me olhar no espelho e gostar de quem eu sou, da forma que sou, das gordurinhas a mais, do cabelo indeciso. Tem sido legal entrar na academia e não me sentir inferior por não ter os maiores músculos, assim como tem sido delicioso usar a blusa por dentro da calça e parecer tão freak, anos 70.  Tenho tido uma experiência muito boa com meu corpo, que é meu lar, minha morada, nesses últimos meses diferente de todos os últimos anos; tem sido muito bom me aceitar. 

Quando aceitamos nos olhar, com nossos olhos, de outra maneira permitimos sermos felizes com nós mesmos.



Esse post pertence a este projeto, que é basicamente todo mês escrever uma carta de coração: falando de auto-descoberta, para alguém do passado ou um simples desabafo.

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