Resenha: "Traços", de Eduardo Cilto

4 de set. de 2016
Traços
Eduardo Cilto
Editora Planeta
272 páginas
Quando Matheus aceitou acompanhar Beatriz na festa do colégio, jamais imaginou que terminaria a noite participando de um ritual místico (de veracidade duvidosa) para saber o que o futuro reservava para ele e a amiga. Assim que as velas que os cercavam se apagam e uma resposta esquisita encerra a cerimônia, Beatriz leva o resultado a sério e entende que deve fugir da cidade pequena para se encontrar com seu destino nas ruas da capital de São Paulo. Perdido no meio de tudo, Matheus é obrigado a repensar o que considera certo ou errado quando é convidado para participar do plano maluco de fuga e decide que precisa passar por cima dos limites impostos pelos pais para finalmente ser capaz de entender quem realmente é. Os dois amigos partem sozinhos para São Paulo e carregam consigo não somente as malas nas costas, mas também o peso de todos os problemas que achavam que estavam deixando para trás. Sem ter ideia do que estão enfrentando, Matheus e Beatriz descobrem mais sobre si mesmos, criam, quebram laços e encaram desafios que jamais pensaram que confrontariam enquanto contavam as moedas para realizar esse grande plano que iria mudar suas vidas para sempre.


Escolher esse livro pra ser minha leitura da vez foi fácil. Autor brasileiro e booktuber, história acontecendo no Brasil e no ano que estamos, capa bem bonita e sinopse interessante. Lê-lo foi tão fácil quanto essa decisão. Em uma leitura super simples, conhecemos a história de Matheus e Beatriz, adolescentes e melhores amigos, que após a festa da escola resolvem participar de um ritual realizado pela namorada de um amigo, coagidos pelo desejo de Bia de conhecer seu futuro. O ritual é descrito de uma forma meio bizarra, velas, círculo de sal e toda essa coisa de bruxaria. A mensagem deixada para Bia, que buscava respostas sobre sua futura vida, foi de que seu destino não se encontrava ali, o que a fez decidir, no dia seguinte, que tudo de que precisava era fugir pra São Paulo na busca de conhecer o vlogueiro "Garoto Diferente", de quem a menina era fã e acreditava que com ele poderia encontrar todas as respostas pras perguntas que tinha e, ainda propondo, levar consigo seu melhor amigo, Matheus.



Com a relação conturbada que existia entre Matheus e sua família e a paixonite clara pela melhor amiga, ficou óbvio que ele a acompanharia nessa fuga maluca. Chegando em São Paulo, depois de muitos percalços, a história toma um rumo completamente diferente. Bia e Matheus veem o noticiário que informa que três vlogueiros foram sequestrados (o que me fez lembrar bastante do caso Marina Joyce), entre eles, o Garoto Diferente, a quem Bia largou tudo para procurar. Sem muito dinheiro no bolso, sem rumo e sem saber o que fazer com aquela notícia, eis que surge Samantha, uma ex colega de sala de Matheus, que os acolhe em casa e passa a fazer parte dos planos dos dois. Sammy é a personagem que mais curti e, acredito, a personagem que tornou a história melhor, com suas frases de efeito e sensibilidade.



O egoísmo e a inconsequência presente nas atitudes de Beatriz, vai se intensificando com o decorrer da história, fazendo que com que fique impossível gostar da personagem, que pensa unicamente no próprio umbigo e não pesa as consequências de seus atos. Embora fosse difícil engolir certas atitudes idiotas dos personagens (que sempre consistiam em ideias de Beatriz sempre aceitas por Matheus), confesso em que alguns muitos momentos dei muita risada e encontrei um pouco de mim, nos meus quatorze ou quinze anos, no meio das coisas que eles viveram.
- Podem embarcar! - o homem anunciou depois de passar mais alguns segundos avaliando o que estava em suas mãos e devolvendo os documentos para Beatriz. - Miguel e Lupita, desejo a vocês uma boa viagem. (...) A garota jogou os papéis em meu colo e entendi o motivo dos risos. Os documentos tinham nomes de personagens de uma novela mexicana que fez sucesso quando éramos crianças.


No meio desse enredo, que não me convenceu muito em seu total, ainda assim foram abordados temas de muita importância. A homossexualidade e as consequências do "não apoio" familiar, a relação dos adolescentes com a fama e a internet são assuntos que precisam ser discutidos e de alguma forma, o autor conseguiu passar uma mensagem marcante sobre essas temáticas, o que achei muito positivo. O final da história é triste e me deixou com um sentimento de impotência horrível, não querendo acreditar em como as decisões que eles tomaram os levaram pra aquela situação, por diversas vezes a vontade era de gritar com os três que criassem juízo. Por fim, senti que a história tinha grande potencial, mas não foi bem construída e ficou, se não muito trágico, irreal.

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