O verdadeiro Natal

26 de dez. de 2016
Vou-lhes contar uma pequena história, até mesmo boa. Porém, vale a pena ser contada e, também, ser lida.


Esperei alguns dias, ansiosamente, para o Natal - a fartura, a família que não via a tempo, os amigos, os presentes, as fotos e mais presentes. E, mais uma vez, tive outro Natal maravilhoso, com pessoas que amo e bem comigo mesmo. Teve uma hora, haha, que na troca de presentes do amigo oculto meu irmão errou, porque haviam dois Igors - e a pequena cabeça dele não entendeu que era o outro Igor quem ele havia tirado e não eu, o mimão. Mas isso, do meu irmão confundir o amigo oculto dele, não é a história que tenho para contar e sim do dia seguinte, quando estávamos indo terminar com a ceia iniciada na noite anterior. 

O trajeto da minha casa até a casa dos meus avós são cerca de 21km, cerca de quinze minutos, para chegar passamos por diversos percursos que vemos pessoas jogadas no chão, algumas bêbadas, outras imundas, mais outras magras. Até então tinha me acostumado com essa cena, até que vi uma mulher. Negra. Deficiente. Pobre. E vocês não sabem o quanto aquilo doeu em mim, na minha mãe, no meu padrasto. Então, após a ver cena daquela mulher pedindo dinheiro em um sol de rachar às 12 horas da tarde, parei para pensar em algumas coisas na minha vida: como todos os dias acordar e, mesmo que de mau humor, ter um trabalho com um salário seguro no final; como tenho uma família que me aceita na minha contingência e não apenas isso, também me apoia; como pude rir com o meu irmão confundindo os presentes e ver a felicidade dele em ganhar um tênis que brilha de 6 formas diferente. Então eu chorei. Eu chorei por dentro, doeu. E aí, eu chorei por fora. Pra fora. 

Chorei por mim e por ela, a figura negra, pobre e feminina separada pelo vidro da janela do carro do meu pai e de uma realidade totalmente diferente da minha. Percebi a sorte, o privilegio e a diferença que tive e tenho - não que eu veja isso como algo positivo, mas tenho a agradecer, porque, amigos, aquela mulher, só por ser mulher já sofre, mas ela também é negra e deficiente. Consegui, mesmo que inconscientemente, sentir algumas dores daquela mulher que pedia dinheiro durante os intervalos do semáforo. 

Não gostaria de pedir compreensão ou que vocês ajudassem pessoas que necessitam, gostaria de deixar aquela velha dica de realmente agradecer sobre todas as coisas que acontecem na sua vida, até mesmo as ruins. Agradeça por ter uma louça para lavar, uma cama para arrumar, por ter pessoas que te amam e te apoiam na sua forma, agradeça por ter oportunidade que milhares de pessoas não tem, por ter acesso à informação, por ter sorrisos e por ter lágrimas, por ter noites de festa, sonecas após o almoço, por sua cerveja gelada no final do dia e pelos amigos com quem você brigou por causa do seu namorado. 

Feliz Natal, coisas lindas.

obs: meus pais voltaram para ajudar a mulher, porque assim como eu, tenho certeza, eles também se sentiram tocados e agradecidos.

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  1. Eu também fico muito mal vendo essas pessoas na rua, que bom que seus pais voltaram para ajudar.

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