Resenha: "Nova York: a vida na grande cidade", de Will Eisner

30 de abr. de 2016
Nova York
A vida na grande cidade
Will Eisner
Quadrinhos na Cia, 2009
440 páginas
Na estreia do selo Quadrinhos na Cia., o grande mestre do gênero não podia ficar de fora: nas quatro graphic novels reunidas neste livro, escritas nos anos 80 e 90, Will Eisner traça um retrato genuíno, ao mesmo tempo brutal e profundamente humano, da vida na cidade grande. Protagonizadas por personagens singulares, essas pequenas histórias registram momentos às vezes irônicos, às vezes trágicos, da vida dos habitantes da metrópole, revelando muito mais do que “um acúmulo de grandes edifícios, grandes populações e grandes áreas”.
Nova York: A grande cidade e Caderno de tipos urbanos são compostos de vinhetas que registram, a partir do cenário da cidade, aspectos do dia a dia de seus habitantes. Esses breves vislumbres iluminam com delicadeza desde as situações mais cotidianas até as reviravoltas mais trágicas. O olhar agudo que se revela nas vinhetas ganha em O edifício e Pessoas invisíveis aspecto mais sombrio. Nessas histórias, que são sobretudo biografias de personagens solitários e esquecidos, Eisner põe em xeque o isolamento e a indiferença impostos pela metrópole.
Verdadeira obra-prima dos quadrinhos, Nova York é um registro impressionante não só da sensibilidade de seu autor mas da vida que se esconde por trás de toda grande cidade.
Considerado um dos criadores do quadrinho moderno, Will Eisner (1917-2005) foi um dos mais importantes artistas do século XX. Pai do herói Spirit, Eisner influenciou gerações de quadrinistas no mundo todo. Dele, a Companhia das Letras publicou A baleia branca; O complô; Fagin, o judeu; A princesa e o sapo; Sundiata, o leão do Mali e O último cavaleiro andante.
Esse é o meu primeiro contado com o autor, mas já posso dizer que ele toca o leitor com uma sensibilidade única. Nova York é a compilação de quatro obras de Will Eisner: “Nova York: A grande cidade”, “O edifício”, “Caderno de tipos Urbanos” e “Pessoas invisíveis”. Will Eisner é um contador de histórias comuns, que acontecem todos os dias nas grandes cidades, fala sobre a rotina, coisas que se tornam invisíveis devido a não importância, práticas repetitivas e coisas que passam despercebido e se encaixam desde a vida do autor aos dias atuais.


“Agora sei que estas estruturas, incrustadas de riso e machadas de lágrimas, são mais do que edificações sem vida. Não é possível que, tendo feito parte da vida, eles não absorvam de alguma forma a radiação proveniente da interação humana.”

Gostaria de puxar um ponto específico para a parte reservada para o graphic novel “Pessoas invisíveis”, pois percebemos que esse livro se encaixa para qualquer cidade grande, por exemplo, aqui em Brasília, onde as pessoas são realmente invisíveis umas para as outras, onde grande parte são tragadas por uma rotina esmagante e excessiva, se tornam objetos e formigas operantes - e aí, entramos na grande ironia de viver numa imensidão de pessoas e estarmos completamente sozinhos.

Eisner tem um jeito único de escrever a história dos seus personagens, há diversos cenários e possibilidades exploradas pelo autor, desde a utilização de bueiros, paredes, lixos, metrô, escadas entre diversos outros, para expor a realidade das cidades movimentadas. Usando um sentimentalismo o leitor é locado de frente com a realidade, inserido no conceito doentio do homem, mas também no lado humano que este constrói a medida do tempo e espaço.


O HQ é lindo, as folhas são maravilhosas e pautadas numa edição brochura com muito cuidado pelo selo Quadrinhos da Cia, da Editora Companhia das Letras. A graphic novel segue uma linha mais caricato, contudo, não chega a distorção dos personagens, pois há grande aproximação da realidade e uma busca para expressar o tempo, ritmo, barulhos, cheiros e sentimentos.

"Vistas de longe, as grandes cidades são um acúmulo de grandes edifícios, grandes populações e grandes áreas. Para mim, isso não é ‘real’. O real é a cidade tal como ela é vista por seus habitantes. O verdadeiro retrato está nas frestas do chão e em torno dos menores pedaços da arquitetura, onde se faz a vida do dia-a-dia."

Sem dúvidas, é um livro que vale a pena ser desembolsado algumas dilmas. Não é uma leitura recomendada apenas para adultos, mas para qualquer um desde criança à idoso, é um livro sobre quem vive no meio do capitalismo da cidade grande, na correria e na bobeira do esbanjo.

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