A internet não é tão mais legal assim

24 de fev. de 2018

Eu lembro que a 10 anos atrás surfar na internet (como as pessoas se referiam quando acessavam seus computadores) era algo totalmente diferente de hoje, era raro, era rápido e era intenso. Esperava horas para poder usar um computador, que no caso, era da filha de uma amiga da minha mãe, porque não tínhamos condição de comprar um e muita vezes me contentava apenas em ficar rabiscando com o mouse  no paint, mal sabendo as possibilidades e sites divertidos que poderia acessar.

Um computador era algo diferente para mim, de outro mundo, um mundo de ficção científica, inverso e totalmente cool, onde poderíamos fugir para se divertir durante algum tempo. Acredito que esse sentimento é porque eu não tinha um computador e raramente usei quando era criança, até quando no início da puberdade tivemos nosso primeiro computador, um daqueles que o televisor parece uma caixa e ocupava mais da metade da mesa e também foi a época da nossa primeira internet discada (alô quem esperava ficar de madrugada para acessar a internet com uma velocidade inigualável).

Naquela época, ainda era difícil ter acesso ao tanto de informações como temos hoje: se chovia, ficava sem internet três dias, quando não chovia, tinha que usar a internet a noite e meu pai nunca deixava ficar mexendo no computador ─ havia disciplina e um limite, então cada vez que conseguia acessar a internet era uma vitória, alegria e proveito. Não conseguia acreditar como era possível acesso aquele mundo e como aquilo poderia existir, porque eu poderia conversar com pessoas fora do meu nicho e ser alguém que eu não era na escola e nem em casa, poderia ser o que queria ser. 

Lembro que os smartphones começaram a ficar com preços acessíveis no ensino médio, que foi a época que ganhei o meu primeiro celular (antes disso era só jogo da cobrinha, sms e ligação). E essa época as coisas começaram a decair, onde passava cada dia mais no celular, viciado nas redes sociais e na tão necessidade de postar algo novo ou de estar presente ─ isso durou muito tempo até chegar no final da faculdade e falar, perainda, tem algo muito errado que não está certo acontecendo.

Ano passado justifiquei o meu sumiço da internet com a desculpa esfarrapada de "estou em época do TCC, não tenho tempo para isso", usei essa desculpa porque não conseguia autoafirmar que precisava de um tempo longe das redes sociais. Havia chegado em um momento que tudo se tornou too much, muita informação, muito like, muita provação, muito de muito. É como a Ana escreveu no relato pessoal "Abrir o feed do Instagram todos os dias era me lembrar constantemente de tudo o que eu ainda precisava alcançar. E isso era um fator determinante para que eu me sentisse feliz com o que eu tinha, mas nunca o suficiente. Eu precisava de mais.". Então, no meu momento de detox digital, que perdurou 8 meses, percebi o quanto estar presente em diversas redes sociais afetou minha cabeça e como aquilo que me deixava mal, porque enquanto seguia pessoas para "me inspirar", sabia que aquilo também serviria para me maltratar, porque eu nunca teria a vida de blogueiros e não teria lojas enviando coisas para mim e muito menos ficar mostrando a minha vida como um filme, porque ela não é um, mas se fosse, seria um filme que tenho muito ciúmes e quero escondê-lo de todo mundo, haha.

8 meses foi um período de surpresas agradáveis para mim (inclusive necessário), foi quando comecei a ler mais sobre economia, minimalismo e me questionar algumas coisas da vida, coisa que não fazia porque sempre conseguia ocupar o meu tempo "mergulhando na rolagem do celular até o fim do oceano". E como ninguém é de ferro, voltei as redes sociais no final de 2017, porém posicionado de um modo diferente à internet e o uso do celular.

Desativei todas as notificações possíveis e consequentemente comecei a olhar menos o celular, porque a tela não brilhava e não tinha nenhum bipe dizendo que havia chegado algo novo, porque há cada minuto chega algo novo (e na maioria das vezes são coisas que nem precisam de urgência). E é engraçado que quando você toma essa medida "drástica" os próprios aplicativos ficam loucos pedindo para que você reative as notificações, e é uma delícia estar no poder sobre. É como a Ana Rüsche diz:
Jamais se desculpe se ficar off-line. Se não for algo da lista das exceções, encare como um direito teu.
Esses dias uma colega saiu em uma matéria do jornal que falava sobre a necessidade de estar conectado o tempo todo e de como as pessoas "gostam de acompanhar as coisas que elas se identificam ou ver os que os famosos andam fazendo durante o dia.". Uma coisa que realmente me incomodou é que nessa mesma matéria é que mostrada é realçada a hipótese de precisar realmente estar conectado o tempo, como se fosse cool. O que me incomoda mais ainda é a quantidade de jovens (da minha idade) que estão com depressão e crises de ansiedade, talvez isso seja usado pelo uso imoderado do celular e grande parte de mim acredita nisso: as pessoas não passam um dia sem se conectar com outras pessoas, porém elas estão se conectando com elas mesmas? E é isso que a  Amber Case falou na sua entrevista: “Vivemos constantemente em atenção parcial, nunca estamos presentes, portanto não temos tempo de reflexão.”.

Enquanto luto para deixar a internet do celular desativada, muitas outras pessoas encaram isso como absurdo. Afinal, quem em pleno 2018 não está conectado ou tem um pacote de serviços telefônicos? (eu, eu eu). Gosto muito desse vídeo da Jout Jout que ela fala sobre a única certeza que temos é a morte e, enquanto a esperamos a morte, a gente se distrai. Porém gosto ainda mais da pergunta final do vídeo "como você tem se distraído?". Temos nos distraído com a vida dos outros ou imersos nas hipóteticas vidas que poderíamos ter, em reações das redes sociais que nem temos contato físico, será que esse é um modo digno de distração?



Sem dúvidas eu não poderia montar isso tudo aqui sozinho, então vou deixar diversos textões, porque sou da indústria dos textões, sobre o assunto: 

Menos buzz, mais zzz: Menos urgência, mais preguiçazzzz. Leia! 

Amber Case: “O celular é o novo cigarro: se fico entediada, dou uma olhada nele. Está nos escravizando”: não poderia de deixar de recomendar, porque é uma entrevista que fala de várias coisas desencadeadas pelo uso exacerbado da internet.

- Detox digital: graça a Ana criei coragem para falar sobre isso que estava me incomodando há meses, e recomendo ir lá ler a experiência vivida que ela contou.

- Aprenda a fazer um tcc, mole-mole clicando aqui.

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